O desencarne trágico é uma escolha do espírito?
A pergunta frequenta muitas discussões nos Centros Espíritas e interessa particularmente a parentes de desencarnados em tais circunstâncias.
A resposta é tanto positiva quanto negativa, dependendo do caso e da concorrência de diversos fatores, fazendo-se pertinente um aprofundamento a respeito.
Nos dizem os espíritos que o plano reencarnatório demanda certo nível de discussão entre o sujeito que irá renascer na Terra e mentores de mais elevado grau, especializados nestes processos. Sobretudo capazes de desmascarar demagogias e carências com simples olhar.
O objetivo destes mentores não é humilhar ninguém. Agem como o irmão mais velho zeloso, imbuído do sincero amor fraternal, auxiliando na formação de um cidadão responsável. Para que o espírito possa desenvolver a auto-consciência, a auto-responsabilidade e a auto-orientação.
Também nos alertam os espíritos que nem sempre o reencarnando aceita que precisa evoluir, podendo ter falhado em experiências de vidas passadas, negligenciando oportunidades que lhe fôram concedidas, o que recrude as leis evolutivas incidentes sobre si.
Nada mais certo do que a resistência que acumula energia e provoca a descarga elétrica, ou a barragem que se rompe pelo fluxo pesado de uma enxurrada, que só a precaução e regularidade do fluxo pode evitar. E precaução é inteligência aplicada.
É perfeita a engrenagem do processo reencarnatório. A ponto de promover o encontro de um habituê imprudente ao volante com um negligente em algum campo mental, estabelecendo o fato trágico para a reflexão de ambos, das famílias envolvidas, e da sociedade em geral.
A perda relaciona-se com a necessidade de ganho de si para os dependentes emocionais, pois a solidariedade familiar não deve impedir o desenvolvimento pleno da individualidade adulta. Notar que o processo evolutivo é sobretudo exclusivo e individual. Ninguém, absolutamente ninguém, fará o trabalho de outrem a empreender.
Num plano lógico mais elevado, espiritualizado e não materialista, não há, absolutamente, injustiças no mundo, no sentido unilateral que costuma nortear o entendimento humano. É delicada esta compreensão e para muitos difícil e até mesmo prejudicial, se colhida nos campos da ignorância ou cultura espírita embrionária. Isto porque pode levar ao equívoco de interpretá-la como se a vítima “fizesse por merecer” o óbito prematuro. Não! Absolutamente. Nenhum espírito merece a dor. Ela pode ser e frequentemente é contornada pela alteração do padrão que precisa ser modificado, ainda em vida encarnada, escapando ao destino fatídico.
É mais fácil para os encarnados em corpos densos observar o nexo na causa-efeito no plano exclusivamente fisiológico, como o enfarto decorrente do descuido com a saúde. Mas também ocorre entre a ação imoral e a consequência desagregadora fisiológica. É este um dos alertas mais incisivos da doutrina espírita. O sofrimento é consequência inequívoca do baixo padrão vibratório dos pensamentos e ações de si. E também de um conjunto de negligências dentro da esfera potencial do ser.
O espiritismo vem esclarecer este nexo moral-fisiológico, indo além da concepção psico-somática de Freud inclusive. E o faz por uma razão muito simples. A medida que progride em definitivo na evolução moral, o corpo do espírito, chamado perispírito, vai se tornando supérfluo, até o ponto de deixar de existir. É o fim da fronteira entre o ser e estar, que define a percepção de pertencimento a intervalo temporal.
Eis o sublime cume em que o espírito se assume como mentalsoma independente da matéria, integrado harmonicamente à obra e ao mesmo tempo o papel de co- criador da engenharia universal.
Que fique claro. Ninguém neste planeta merece desencarnar antes da decrepitude. O que acontece é que a fatalidade se dá por um conjunto de fatores operando sobre demandas evolutivas principais e tangenciais. Há casos de concorrência de espíritos para a oportunidade de uma morte trágica, a fim de saldar débitos pretéritos ou simplesmente fomentar valores a desenvolver.
É preciso compreender que o espírito desencarnado, livre da ignorância humana, pensa diferente a respeito da vida (eterna). O eixo de atenção se volta prioritariamente à evolução de si, porque só ela traz a verdadeira felicidade. E uma breve existência encarnada pode, dependendo das circunstâncias sofridas, ajudar a acelerar, ou ainda desemperrar, um processo evolutivo estagnado, resistente à mudanças.

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