Existem milagres para o Espiritismo?

A humanidade não detém conhecimento pleno das leis que regem o universo e esta constatação por si só já responderia a indagação. Um milagre [1] não é mais do que um fato que o estado compreendido pela ciência atesta como válido, porém não consegue compreender suas causas.

A medida em que o homem avança em conhecimento, vai desvendando os mecanismos que determinam os fenômenos que lhe rodeiam. É inexorável a marcha evolutiva da ciência mas, conforme a finalidade ética que lhe revolve,  será mais ou menos acelerada.

Para a ordinária vida de um ser encarnado, nâo menos importante a consideração de que nem sempre a experiência adquirida será capaz de debelar problemas e dialogar adequadamente com certas situações de crise. O auto-conhecimento pode gerar perplexidade quando desvendado a passos largos, daí a necessidade de uma certa dosagem. O esquecimento da condição espiritual é marca deste fator de misericórdia superior.

Não se deve ceder à falta de esperança. Se o auxílio de terceiros não for capaz de amenizar a dificuldade enfrentada -- a ajuda entre os seres é das manifestações mais evidentes da palavra crística -- , pode-se dirigir oração direta à providência. Se a conjunção de fatores encontrar-se por assim dizer adequada, haverá êxito no intento.



É preciso deixar claro que, sendo este um mundo de expiação e tendo a inteligência superior compreensão mais ampla e profunda do que o espectro materialista é capaz de mostrar, nem sempre a solução coincidirá com a pretendida. É importante formular a prece de modo despretensioso e honesto, depositando confiança absoluta na força à qual se dirige o pedido de clemência, sem estipular como, quando e por quais meios a ação superior agirá.

É possível p.ex., que Deus, agindo por emissários especializados nas lides humanas, desconcentre desafios propostos que estejam a confundir a alma ao invés de regenerá-lá  [2], alongando o tempo para respondê-los ou alterando-lhes as circunstâncias. Isto trará conforto momentâneo que restaurará as faculdades psíquicas e biológicas da pessoa. Com o instrumento revitalizado, o encarnado poderá diagnosticar e resolver as questões mais urgentes de modo adequado.

Também é possível àqueles que manejam os processos reencarnatórios [3], substituir algumas experiências muito árduas ou complexas, por situações mais amenas com o mesmo convocatório reformista, que a atenção não deve negligenciar.[4]

O processo de milagre foi precisamente descrito por Pietro Ubaldi [5], em A Nova Civilização do Terceiro Milênio, cujos  trechos de relevo destaca-se a seguir.






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[1] Do latim miraculum, do verbo mirare, "maravilhar-se".

[2] Este aspecto não deve ser visto com ceticismo em relação à perfeição divina.  Estando o homem ainda inserido num patamar evolutivo inferior, as diligências extracorpóreas imediatamente afinadas à expiação terrestre devem possuir algum grau de maleabilidade, sem que isto signifique a revogação de decretos eternos universais.

[3] A reencarnação não é infinda, caracterizando-se por um mecanismo de cura e evolução mais voltado à infância ignorante e à dureza do orgulho. É natural que haja alterações em algumas proposições pré-encarnatórias, conforme o aprendizado emerge suficiente à alteração de postura.

[4] Um mundo sobretudo voltado às provas não pode ter maior finalidade que a forja educacional primeira das almas recém saídas da animalidade. É preciso civilizá-las para que possam ascender às melhores esferas.

[5] A obra completa encontra-se disponível na biblioteca.

*Tela em óleo "O Pescador", de Athayde Lopes.

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