Como o Espiritismo explica Deus?
Nos ensina Pietro Ubaldi, em A Grande Síntese [1]:
"Se registrasseis em grandes séries o desenvolvimento dos destinos individuais, veríeis ressaltar do resultado uma lei em que aparece evidente a intervenção de uma força superior à vontade e ao conhecimento individuais."
De fato, não há terceira opção. Ou subsiste um governo organizado por uma inteligência suprema que a tudo permeia, ou o caos sem sentido, o nada plasmando o acaso. O homem tem grande dificuldade de aceitar uma criatura intangível que lhe tenha doado a vida, e recorre à imagem de um pai para ilustrá-lo. Vê os animais inferiores que lhe são tributários neste mundo e cogita de que nada no universo lhe seria superior, pois goza de livre arbítrio, inclusive para repudiar o criador.
Este repúdio nunca persiste por muito tempo, já que a aproximação de Deus também é lei não escrita que acaba dissuadindo os Espíritos encarnados mais endurecidos no ceticismo, cedo ou tarde.
Com razão o pensador italiano, ao perceber que "o homem se comporta como se estivesse sozinho, isolado no espaço e no tempo. Sua ignorância da grande Lei que governa tudo, fá-lo crer que vive num caos de impulsos desordenados, abandonado apenas às próprias forças, sendo estas sua única lei e amparo. Seu egoísmo é um 'salve-se quem puder' de todos contra todos."
E então, longe dos "holofotes" de um observador onisciente, apraz-se no mal. E logo torna à sofrer. E a dor fatalmente lhe reconduz a uma ordem pretérita e superior que é necessário aceitar.
"A providência divina representa esta força maior, a justiça em ação, não só para levantar, como para abater. Por lei espontânea de equilíbrio, vereis que ela sabe dosar as provas para que não ultrapassem as forças; vê-la-eis levantar-se, gigantesca, para proteger o humilde indefeso e honesto que a opressão humana tencionava arruinar; vereis que ela dá a quem merece e tira de quem abusa, premiando e punindo, distribuindo além das partilhas humanas.
[...] não é base de um afastamento gratuito de sanções de dor e significa direito ao mínimo indispensável às forças humanas para ascender o cansativo caminho da vida; significam repousos merecidos e necessários, não ócios gratuitos e perenes, como quereríeis. Nada mais falso que a identificação da providência com um estado de inércia e expectativa passiva. Isto é invenção de indolentes iludidos, é exploração dos princípios divinos.
[...]
O absoluto simplesmente 'é'. Não queirais restringir a Divindade aos limites de vossa razão; [...] Se quereis somar ao infinito vossos superlativos, dizei ao infinito: isto ainda não é Deus."
E, o mais importante, ainda em Ubaldi:
Seja Deus para vós uma direção, uma aspiração, uma tendência; seja para vós a meta.
[...]
ela lá está a esperar-vos; para revelar-se, espera vossa maturação. Hoje, que finalmente vossa mente está amadurecendo, não é mais lícito, como no passado, “reduzir” aquele conceito a proporções antropomórficas.
Não procureis Deus apenas fora de vós, tornando-o concreto em imagens e expressões de matéria, mas o “sentis”, sobretudo , em sua forma de maior poder dentro de vós, na idéia abstrata, estendendo os braços para o universo do espírito, que vos aguarda."
Para a doutrina kardecista, de base agnóstica, Deus é imanente ao ser humano e portanto está em nós tanto quanto fora, não exatamente na perspectiva panteísta, mas nos faltam elementos para explicá-lo e o espírito revelador, já nas primeiras páginas da codificação do Livro dos Espíritos o advertiu.
A Bíblia também exorta: "Vós sois Deuses". A passagem guarda implicâncias ainda desconhecidas mas profeticamente vislumbráveis nos fenômenos provocados por Jesus. O aprimoramento moral e intelectual é o maior objetivo da existência terrena.
A liberdade, a responsabilidade e também o poder nos são facultados para que enquanto fagulhas nos reaproximemos da perfeição, empreendendo a obra do Cristo pela compreensão e paulatina reintegração no todo. Para que este orbe evolua ao paraíso prometido, e então após muitos séculos de préstimos enquanto campo evolutivo, possa sucumbir como a tantos outros que já pereceram na dimensão mais densa.
Confirma o autor italiano:
"Todo o universo gravita em redor de Deus e aos poucos acabamos por nos fundir n'Ele, se escolhemos o caminho da ascensão. Por outro lado, se escolhemos o caminho que desce, apenas podemos acabar na destruição, porque nos afastamos de Deus, única fonte de vida.
O homem que involui despedaça os vínculos vitais que o ligam ao divino; o homem que evolui os estreita e reforça. Este caminha em direção da luz, aquele se precipita nas trevas; o primeiro aproxima-se do centro do sistema de forças, que é também o centro do poder e da vida; o segundo afasta-se do centro para a periferia, onde há exaustão e morte. Um se dirige para o conhecimento; o outro, para a ignorância.
A ascensão significa construção de consciência; a queda destruição de consciência. A consciência conduz à ordem, à adesão à Lei; a inconsciência conduz à desordem, isto é, à rebelião.
O livre arbítrio representa a fase da formação da consciência e, portanto, fase de transição, que existe para ser superada apenas se atinja o objetivo. Ou o mal se transforma em bem ou se destrói. Assim, a liberdade ou finalmente adere e obedece à Lei ou o rebelde acaba sendo eliminado por autodestruição, tão logo termina a experiência que lhe motivou a concessão, porque necessária à livre formação de consciência.
Em suma: há unicamente um senhor, Deus - o bem; e, não obstante a liberdade, só se torna possível seguir este caminho, o que vai a Ele, caminho que é também o da felicidade.
A liberdade humana, relativa e limitada, não pode, pois, ultrapassar os limites impostos ao homem para seu próprio bem; instrumento formador de consciência, a liberdade deve agir nesse sentido ao invés de desmandar-se em atitudes de inconscientes e desordenar a ordem das coisas. Essa liberdade enquadra-se e canaliza-se de tal modo que ou caminha em direção a seu objetivo ou se destrói. Quem regride para a inconsciência perde a faculdade de compreender e perde, ao mesmo tempo, a liberdade. Quem regride para a inconsciência perde a faculdade de compreender e perde, ao mesmo tempo, a liberdade. Quem progride em direção à consciência também a perde, porém como fusão na vontade da Lei.
E conclui, em perspectiva deveras ampla sobre o ciclo espiritual evolutivo:
"Tudo se reduz a adquirir a consciência dessa Lei e a superar a ignorância, tudo se reduz a compreender coisa tão simples e lógica, no entanto, ou, seja, que Deus apenas pode querer, e quer mesmo, nosso bem. Se o homem não fizer tão simples descoberta, todas as maravilhosas descobertas científicas hão de submergir na destruição. O grande mal, que nos engana e trai, consiste nessa ignorância, a iludir-nos com miragens, mostrando-nos a felicidade na revolta, exatamente onde não está nem pode estar.
Em que se cifra o maior desejo do homem, senão na sua felicidade? Qual o maior desejo de Deus, senão a felicidade do homem? Só a ignorância humana a respeito do pensamento de Deus pode tornar divergentes duas vontades que tendem ao mesmo objetivo. Se lutam, é exatamente porque desejam ansiosamente abraçar-se e unir-se. Por isso vivemos na experimentação e na dor. De fato, através de provas e mais provas, se adquire essa consciência em que consiste a única solução do problema.
*tela em óleo de Scott Naismith.
A Bíblia também exorta: "Vós sois Deuses". A passagem guarda implicâncias ainda desconhecidas mas profeticamente vislumbráveis nos fenômenos provocados por Jesus. O aprimoramento moral e intelectual é o maior objetivo da existência terrena.
A liberdade, a responsabilidade e também o poder nos são facultados para que enquanto fagulhas nos reaproximemos da perfeição, empreendendo a obra do Cristo pela compreensão e paulatina reintegração no todo. Para que este orbe evolua ao paraíso prometido, e então após muitos séculos de préstimos enquanto campo evolutivo, possa sucumbir como a tantos outros que já pereceram na dimensão mais densa.
Confirma o autor italiano:
"Todo o universo gravita em redor de Deus e aos poucos acabamos por nos fundir n'Ele, se escolhemos o caminho da ascensão. Por outro lado, se escolhemos o caminho que desce, apenas podemos acabar na destruição, porque nos afastamos de Deus, única fonte de vida.
O homem que involui despedaça os vínculos vitais que o ligam ao divino; o homem que evolui os estreita e reforça. Este caminha em direção da luz, aquele se precipita nas trevas; o primeiro aproxima-se do centro do sistema de forças, que é também o centro do poder e da vida; o segundo afasta-se do centro para a periferia, onde há exaustão e morte. Um se dirige para o conhecimento; o outro, para a ignorância.
A ascensão significa construção de consciência; a queda destruição de consciência. A consciência conduz à ordem, à adesão à Lei; a inconsciência conduz à desordem, isto é, à rebelião.
O livre arbítrio representa a fase da formação da consciência e, portanto, fase de transição, que existe para ser superada apenas se atinja o objetivo. Ou o mal se transforma em bem ou se destrói. Assim, a liberdade ou finalmente adere e obedece à Lei ou o rebelde acaba sendo eliminado por autodestruição, tão logo termina a experiência que lhe motivou a concessão, porque necessária à livre formação de consciência.
Em suma: há unicamente um senhor, Deus - o bem; e, não obstante a liberdade, só se torna possível seguir este caminho, o que vai a Ele, caminho que é também o da felicidade.
A liberdade humana, relativa e limitada, não pode, pois, ultrapassar os limites impostos ao homem para seu próprio bem; instrumento formador de consciência, a liberdade deve agir nesse sentido ao invés de desmandar-se em atitudes de inconscientes e desordenar a ordem das coisas. Essa liberdade enquadra-se e canaliza-se de tal modo que ou caminha em direção a seu objetivo ou se destrói. Quem regride para a inconsciência perde a faculdade de compreender e perde, ao mesmo tempo, a liberdade. Quem regride para a inconsciência perde a faculdade de compreender e perde, ao mesmo tempo, a liberdade. Quem progride em direção à consciência também a perde, porém como fusão na vontade da Lei.
E conclui, em perspectiva deveras ampla sobre o ciclo espiritual evolutivo:
"Tudo se reduz a adquirir a consciência dessa Lei e a superar a ignorância, tudo se reduz a compreender coisa tão simples e lógica, no entanto, ou, seja, que Deus apenas pode querer, e quer mesmo, nosso bem. Se o homem não fizer tão simples descoberta, todas as maravilhosas descobertas científicas hão de submergir na destruição. O grande mal, que nos engana e trai, consiste nessa ignorância, a iludir-nos com miragens, mostrando-nos a felicidade na revolta, exatamente onde não está nem pode estar.
Em que se cifra o maior desejo do homem, senão na sua felicidade? Qual o maior desejo de Deus, senão a felicidade do homem? Só a ignorância humana a respeito do pensamento de Deus pode tornar divergentes duas vontades que tendem ao mesmo objetivo. Se lutam, é exatamente porque desejam ansiosamente abraçar-se e unir-se. Por isso vivemos na experimentação e na dor. De fato, através de provas e mais provas, se adquire essa consciência em que consiste a única solução do problema.
*tela em óleo de Scott Naismith.


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